Trovadores Medievais
/ Conjunto de Câmara de Porto Alegre
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Prefeitura de Porto Alegre
1995
[59:27]
CANÇÕES ESPIRITUAIS
1. Quen a omagen da Virgen [3:19]
CSM 353
Cantigas de Santa Maria, Dom ALFONSO X (1221-1284) |
em galego-português
2. Onne homo [5:01]
Lauda italiana anônima, Laudario di Cortona (séc. XIII) |
em italiano antigo
3. Ich spür ayn tyer [5:32]
Oswald von WOLKENSTEIN (1377-1445) |
em alemão antigo
4. E poren quero começar [5:15]
CSM 1
Cantigas de Santa Maria |
em galego-português
LOUVAÇÃO HERÓICA
5. Der kuninc Rodolp [5:04]
Der UNVUORTZAGETE (séc. XIII) |
em alemão antigo
6. Nomen a sollempnibus [2:48]
CB 52
Carmina Burana, anônimo (1230) |
em latim
AMOR CORTESÃO
7. Reis glorios [5:07]
Guiraut de BORNEILL (1165-1200) |
em provençal
8. Kalenda maya [4:12]
Raimbaut de VAQUEIRAS (1155-1207) |
em provençal
9. Chanterai por mon corage [5:28]
Guiot de DIJON (séc. XIII) |
em francês antigo
10. Volez vous que je vous chant [4:49]
Anônimo (séc. XIII) |
em francês antigo
CANÇÕES DE TABERNA
11. Her wiert uns dürstet [2:15]
Oswald von WOLKENSTEIN (1377-1445) |
em alemão antigo
12. Alte clamat Epicurus [3:47]
CB 211
Carmina Burana, Walther von der VOGELWEIDE (1170-1230) |
em latim e alemão antigo
13. Bacche bene venies [2:29]
CB 200
Carmina Burana, anônimo (1230) |
em latim
14. In taberna quando sumus [3:27]
CB 196
Carmina Burana, anônimo |
em latim
Conjunto de Câmara de Porto Alegre
Componentes
ELIANA VAZ HUBER — flautas, gemshorn, palhetas, viela de roda, voz
FERNANDO LEWIS DE MATTOS — alaúde, harpa., voz, percussão
MARLENE HOFMANN GOIDANICH — voz, percussão
MARLISE GOIDANICH — rabecas, voz, palhetas, percussão
VÂNIA MOLLER — percussão, dulcimer, voz
COORDENADORA: Marlene Hofmann Goidanich
Origem
O Conjunto
de Câmara de Porto Alegre é descendente direto de um trabalho que
surgiu de maneira espontânea em 1955 na Faculdade de Filosofia da URGS.
A fim de ilustrar as aulas ministradas por René Ledoux a respeito da
Idade Média francesa, foi contratada a regente Madeleine Ruffier, que
trabalhou canções da época com os estudantes da disciplina. Com o
sucesso da experiência criou-se o "Coral de Camara da Faculdade de
Filosofia da URGS", em cujo repertório destacava-se a música medieval,
renascentista e contemporânea. Paralelamente ao coral, Madeleine
formou, em 1965, o "Madrigal da UFRGS", grupo composto por um sexteto
vocal e por flautas doces, fagote, alaúde e violoncelo.
Em 1973,
com o falecimento de Madeleine Ruffier, incorporou-se o Madrigal ao
"Conjunto de Camara de Porto Alegre", grupo originado do "Quarteto de
Flautas Doces" fundado em 1966 por Isolde Franck. O nome "Conjunto de
Câmara de Porto Alegre" surgiu em 1969, quando o antigo quarteto passou
a executar música barroca com baixo continuo (cravo e violoncelo).
A
partir de 1978, passou o Conjunto de Câmara a ser coordenado por
Marlene Hofmann Goidanich, componente do Coral de Câmara desde 1964 e
membro-fundadora dos demais grupos. Iniciou-se, então, a aquisição do
atual acervo de instrumentos de reconstrução de época.
Trabalho Atual do Conjunto de Câmara de Porto Alegre
Grupo
independente, o Conjunto de Câmara de Porto Alegre especializou-se, a
partir de 1986, na pesquisa da música ocidental dos séculos XII, XIII e
XIV.
Para recriar no século XX a música medieval, o grupo inicia
com o estudo de antologias, tratados e manuscritos de época. Todos os
textos são traduzidos para o português, embora na execução das obras
sejam mantidos os idiomas originais.
Passa-se então à
instrumentação das músicas, mediante experimentação dos mais adequados
timbres, utilizando-se o acervo de instrumentos do grupo. Os cantores e
instrumentistas estudam o repertório escolhido dentro de técnicas
específicas tanto na voz, que deve ser natural e flexível, como nos
sopros e cordas, cujo som sem vibrato torna as sonoridades mais
autênticas.
Pouco a pouco vão surgindo as recriações artesanais,
em que cada músico colabora com suas improvisações e ornamentações. O
fascínio deste estilo musical está justamente nessa recriação, através
da qual cada grupo de música antiga exprime sua personalidade, tornando
a música viva. Foi com este espírito que, nos últimos anos, o Conjunto
de Câmara de Porto Alegre deu vida às músicas do Minnesinger Oswald von
Wolkenstein, às Cantigas de Amigo de Martim Codax, as Cantigas de Santa
Maria do Rei Alfonso X, o Sábio, ao Trecento Italiano, ao amor cortesão
dos trouvères e troubadours, à música espiritual de Hildegard von
Bingen, ao Bestiário Medieval e às músicas do manuscrito Carmina
Burana. Por seu último programa, "Trovadores Medievais", o grupo
recebeu Menção Especial de "Melhor Trabalho em Música Erudita" no
Prêmio Açorianos de Música, edição 1992
ACERVO DE INSTRUMENTOS DO CONJUNTO
DE CÂMARA DE PORTO ALEGRE
SOPROS DE EMBOCADURA LIVRE E DE PALHETA DUPLA INTERNA:
• Gemshorn Soprano e Contralto, instrumentos de chifres
— Jim Furner, Londres
• Flauta Transversal Renascentista Tenor
— Fabricação Moeck, Alemanha
• Família das Flautas Doces Renascentistas
— Fabricação Moeck, Alemanha
• Cornamusa Soprano, Krummhorn Contralto, Kortholt Tenor
— Fabricação Moeck, Alemanha
CORDAS PROFANAS:
• Hammered Dulcimer grande trapezoidal
— Tim Hobrough, Londres
• Rabeca Medieval, instrumento de arco, com três cordas de tripa,
cabeça de demônio esculpida
— James Bisgood, Inglaterra
• Rabeca Medieval, com três cordas de tripa
— Jorge Jofer, Rio de Janeiro
• Rabeca Medieval, com três cordas de tripa e cabeça de
leão esculpida; incrustações de madrepérola
— Jorge Jofer, Rio de Janeiro
• Viela de Roda Renascentista, com quatro cordas de tripa,
reconstruída segundo modelo germânico do museu de
Nürnberg
— Helmut Czakler, Viena
• Alaúde Renascentista de oito ordens com sete cordas duplas
— Jorge Jofer, Rio de Janeiro
PERCUSSÃO:
• Tambor, Pandeiro, Tamborete, Tabla, Duas Darbak, Címbalos, Sistros, Sinos
— Brasil e Alemanha
• Tambourin de quatro cordas percutidas por baqueta de madeira
— Jorge Preiss, Porto Alegre
ORGANETTO OU PORTATIV:
• Instrumento de teclado com duas oitavas meia de extensão, com
tubos de madeira e fole manual
— Irmão Renato Koch, Canoas
CORDAS BÍBLICAS:
• Pequena Harpa Gótica, com cordas de tripa de duas oitavas e meia
— Tim Hobrough, Londres
• Dois Saltérios de Dedo em forma trapezoidal com cordas pinçadas
— Jorge Jofer, Rio de Janeiro
• Saltério Triangular de Arco
— Alberto Araújo, Salvador
FICHA TÉCNICA
ILUSTRAÇÃO DE CAPA: Barbara Benz
ARTE-FINAL: Thomas Benz/NZ Comunicação
FOTOGRAFIAS: Ricardo Braescher
COMENTÁRIOS E TRADUÇÕES: Marlene Hofmann Goidanich e Roberto Goidanich
EQUIPE DE AUDIO: Marcello Sfoggia e Marcos Abreu
Mesa: M. S. V.
Microfones: A. K. G. C12 e Neumann U87
Cabos: Belden
Monitoria: J. B. L. - Phillips
Masterização e Efeitos: Marcello Sfoggia e Marcos Abreu
Fabricação: Sony Music Entertainment (Brasil) - Rio de Janeiro
REGISTRO REALIZADO NO SALÃO MOURISCO DA BIBLIOTECA
PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, PORTO ALEGRE, EM MAIO DE
1995.
FINANCIAMENTO: FUMPROARTE
PRODUÇÃO: Marlene Hofmann Goidanich
AGRADECIMENTOS: Carlos Branco
Adolfo de Almeida Jr.
Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre
a Madeleine Ruffier
(in memoriam)
TROVADORES MEDIEVAIS
Os trovadores, poetas-músicos da Baixa Idade
Média européia, exerceram grande influência na literatura e na música
ocidentais, sobretudo nos séculos XII e XIII. Os mais importantes
centros da música trovadoresca eram as cortes do sul e norte da França
(troubadours e trouvères, respectivamente), a região da atual Alemanha
(Minnesinger), o norte da Península Ibérica (principalmente o Reino de
Castela) e a Itália (reinos de Nápoles, Florença, Verona, etc.).
Compreendendo desde membros da nobreza até humildes menestréis
ambulantes, os trovadores medievais trataram de variados temas em suas
canções, entre os quais se destacam o amor cortesão, o amor pastoril, o
ciúme, a sátira, a elegia, a volta da primavera, a devoção à Virgem
Maria e as Cruzadas. Essas poesias eram cantadas com acompanhamento
instrumental não escrito, o que dava margem para improvisações do
intérprete em torno da linha melódica.
O programa de "Trovadores
Medievais" inicia com três enfoques distintos da música
religiosa-espiritual dos séculos XIII e XIV. A primeira e a quarta
música fazem parte-das Cantigas de Santa Maria de Dom Alfonso X, o
Sábio. Nascido em Toledo, em 1221, Dom Alfonso tornou-se Rei de Ledo e
Castela em 1252, permanecendo no trono até sua morte, em 1284. Em sua
corte foi compilado o manuscrito das Cantigas de Santa Maria, cujas 430
composições foram escritas em galego-português. Quen a Omagen da
Virgen, conta, de maneira pura e fervorosa, o milagre da imagem do
Filho da Virgem, que convida um menino para jantar. A segunda Cantiga,
E Poren Quero Começar, narra os sete Mistérios Gozosos.
A
segunda música do programa, Onne Homo, foi extraída do Laudario di
Cortona, composto por 46 hinos religiosos italianos, os quais eram
cantados pelas comunidades franciscanas. Na lauda Onne Homo o povo, em
procissão, adora uma relíquia da Santa Cruz.
Em lch Spür ain
Tyer, de Oswald von Wolkenstein (1377-1445), encontramos um exemplo da
música espiritual dos povos germânicos. Nobre aventureiro, este
Minnesinger situa-se já no crepúsculo da Idade Média. Nesta música,
Wolkenstein pressente o monstro da morte pairando sobre sua cabeça e,
portanto, tenta redimir-se de seus pecados a fim de conseguir a
clemência divina.
A segunda parte do programa é constituída de
duas canções de louvação heróica. Em Der Kuninc Rodolp, o trovador,
cognominado "O Intrépido", louva o Rei Rodolfo como o maior herói sobre
a face da Terra. Trata-se de uma canção moralizante, escrita em alemão
antigo. Já em Nomen a Sollempnibus, do manuscrito Carmina Burana
(1230), festeja-se a libertação de Jerusalém dos povos pagãos.
As
quatro músicas seguintes têm como tema o "amor cortesão", no qual,
segundo a simbologia feudal, o amante desempenhava o papel de vassalo
de sua dama, oferecendo-lhe seus serviços e jurando-lhe fidelidade
eterna. Em troca, a dama deveria conceder alguma recompensa ao seu
seguidor e defensor — mas não poderia submeter-se de pronto. Por vezes,
o "amor cortesão" assume um caráter claramente adúltero.
Reis
Glorios e Kalenda Maya foram escritas respectivamente, por Guiraut de Borneill (1165-1200) e por Raimbaut de Vaqueiras (1155-1205), ambos
troubadours, exprimindo-se no dialeto provençal da língua d'Oc A
primeira é uma canção de aurora, na qual a mulher teme por seu amante,
pois o marido ciumento já está para chegar. Na segunda, Kalenda Maya, o
trovador expressa sua alegria por ter recebido o perdão de sua nobre
amada, Dona Beatrix.
As duas outras canções são exemplos da
música dos trouvères, os quais escreviam na língua d'Oïl (francês
antigo). Chanterai por mon Corage, de Guiot de Dijon (século XIII), é o
lamento de uma mulher que canta para aliviar a solidão, pois seu amado
está lutando nas Cruzadas. Volez Vous que le Vous Chant, por sua vez, é
uma típica canção de amor, com motivos bucólicos e primaveris.
O último
bloco do programa apresenta canções de taberna, nas quais são
descritos os prazeres da bebida, do jogo e da dança. Her Wiert uns
Dürstet, de Oswald von Wolkenstein, narra, em linguagem popular, o
cotidiano das bodegas medievais. Após, são apresentadas três "canções
de beber e de jogar" do manuscrito Carmina Burana. A primeira delas,
Alte Clamat Epicurus, glorifica os prazeres da mesa, satirizando uma
canção religiosa de Walter von der Vogelweide (1170-1230). Bache Bene.
Venies, por seu turno, é uma lovação ao vinho. Encerra o programa